A Natureza da Fé Salvífica

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O assunto deste post é definir fé de uma perspectiva arminiana e demonstrar que a acusação calvinista que a fé no sistema arminiano promoveria soberba, é imprecisa.

Fé salvífica, quando devidamente entendida, é o meio pelo qual recebemos o gracioso dom da salvação de Deus (Ef 2:8, 9; Rm 4:16; 5:1,2). É a maneira pela qual nós nos achegamos em união a Cristo (Ef 1:13, 2:17). É uma completa confiança e crédito nos méritos do sangue de Cristo (Rm 3:25). É um desvio da atenção de si mesmo [e de seu esforço próprio] para a pessoa e sacrifício de Jesus Cristo (Jo 3:14,15; 6:40).

Calvinistas querem que creiamos que a fé só pode ser graciosa e não meritória se for irresistivelmente causada por Deus. Quando entendemos fé, como acima definida, vemos que não há fundamento para soberba por causa da própria natureza da fé salvífica. Desde que fé é uma guinada se afastando do esforço próprio e uma completa confiança e submissão a Deus, o "orgulho", como diria o Apóstolo, "está excluído".

Então onde está o orgulho? Este é excluído. Por qual Lei? Das obras? Não; mas pela Lei da fé. Concluímos, portanto, que o ser humano é justificado pela fé, sem as obras da Lei. {Romanos 3:27,28 BLIVRE}{Veja Rm 4:1-16.}

Fé é a antítese de obras, não porque Deus nos faz crer, mas porque a fé salvífica em sim mesma, "…é desistir das próprias obras e se submetendo à obra de Deus" (Robert Picirilli, Grace, Faith, Free Will, pg. 162).

Robert Shank, em seu livro Elect in The Son, cita a objeção de Berkhouwer à fé sinergística, que "resulta em certo montante de vaidade humana" e "auto-estima". A resposta de Shank é rápida e direta,

Vaidade e auto-estima pelo que, Professor Berkhouwer? Por renunciar totalmente toda pretensão de justiça própria? Por repudiar completamente toda dependência em boas obras? Por renunciar qualquer direito a mérito pessoal? Por abjetamente se humilhar diante de Deus como um pecador destruído, merecedor da morte, desesperançado, incapaz de se salvar? Por lançar-se sobre as misericórdias de Deus e esperar apenas nos méritos e na graça de Jesus Cristo? Estes são os elementos que dão essência à fé salvífica, e onde a verdadeira fé existe, não pode haver orgulho ou auto-estima. Fé e orgulho são mutuamente exclusivos. (pg 144, ênfase minha)

Não há melhor ilustração bíblica desta verdade que a parábola de Cristo sobre o fariseu e o publicano (Lc 18:9-14). Infelizmente, esta parábola tem sido cada vez mais abusada pelos calvinistas procurando estabelecer algum suporte bíblico para sua insistência que exceto se Deus causar fé salvífica em nós, então podermos nos gabar da própria salvação. Já se foi dito que se fé não é inteiramente monergística, então poderíamos "nos gabar como o fariseu, e agradecer a Deus que não somos como os outros homens (que não exercem sua fé salvífica)". O problema deste argumento é que ele não compreende corretamente o que Cristo estava ensinando em Lucas 18. O fariseu não estava se orgulhando de sua fé. Ele estava se orgulhando de suas boas obras, e crendo que Deus tinha que favorecê-lo baseado no mérito dessas obras, "Jejuo duas vezes por semana; pago dízimo de tudo que tenho".

Se o fariseu realmente tivesse fé, ele não seria capaz de se gabar, e seria como o publicano disse, "Deus, sê propício a mim pecador". Jesus conclui esta parábola com estas palavras: "Vos afirmo que este homem [publicano] foi para casa justificado, e não o outro; pois todo aquele que se exalta será humilhado, e aquele que se humilha será exaltado" (18:14). Desde que somos justificados pela fé, podemos seguramente concluir que o fariseu não tinha fé de onde se gabar. Se ele tivesse então Jesus não teria dito que apenas o publicano se foi justificado. Jesus correlaciona humildade com fé salvífica nesta parábola. Por tal razão, dizer que fé é razão para se gabar é oximórica. Orgulho está excluído não porque a fé é monergística, mas por causa da própria natureza da fé salvífica em si mesma.

Calvinistas afirmam que arminianos obscurecem a graça de Deus negando que a fé salvífica é uma obra irresistível de Deus em criaturas passivas.

Bem pelo contrário, Paulo de fato não assume que fé como condição 'limita e obscurece' a graça ou tira qualquer coisa da iniciativa da graça divina: '[justificação] depende da fé para que ela possa descansar na graça'{Romanos 4:16}. Fé como condição é a maneira da graça e em sentido algum é uma antítese. (Shank, Elect in The Son, pg. 130)

Enquanto a salvação condicionada à fé não dá espaço para gabar-se, tal coisa não seria necessariamente o caso se nossa fé repousasse num decreto incondicional. Shank astutamente faz outra observação,

Na questão da suposição de eleição incondicional, é bem outro o caso. Foi precisamente o fato da eleição e da suposição de sua irrevogabilidade que promoveu tal presunção, autoestima, e orgulho reprováveis em Israel encorajou presunçosa indiferença para com Deus. E onde se poderia encontrar um flagrante exemplo de óbvio orgulho que o próprio Calvino, com sua suposição de que fora 'dotado de um benefício incomparável' de tal modo que ele não estava de todo 'em termos iguais com quem dificilmente recebera um por cento' de tanta graça? Nenhuma compostura pode ser dada a toda e qualquer identificação de sinergismo com orgulho, a qual é simplesmente uma outra farsa teológica com a qual os calvinistas para as gerações têm descaradamente realizado petição de princípio (ibid. 145)

No meu próximo post começarei a examinar a doutrina calvinista da graça irresistível para verificar se existe qualquer suporte a esta doutrina nas páginas da Escritura.

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Created: 2022-04-08 Fri 22:19

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